Nosotros – as gentes e as fronteiras
Por mais que as perspectivas dos rios Iguaçu e Paraná sejam diferentes de cada cidade da Fronteira Trinacional, a natureza e a geografia impõem-lhes um mesmo ritmo e sentido. Por acá, es la misma lluvia fuerte e o mesmo sol quente! Mas e as gentes? Iguais ou diferentes? É certo que existem os índios, e que famílias de espanhóis e de asiáticos povoaram as terras de lá (ou foram as de Foz?) e que os militares e construtores de Itaipu povoaram as terras de cá (ou foi as de Ciudad del Este ou Puerto Iguazu?). Cidades-irmãs na origem e no papel, têm as mesmas distâncias dos rios, que ora as vinculam, com a Itaipu e as Cataratas, ora as separam, com as aduanas, filas sobre pontes e controle de exércitos. Em meio a toda essa região, do lado tupiniquim, a boa vontade da UNILA de buscar, como tantas outras iniciativas que já existem aqui e acolá, o bom convívio e as melhorias sociais. Seu diferencial, propor a troca de conhecimentos e de saberes tradionais, e ser um espaço universal para o diálogo, o encontro, a pesquisa e a educação.
Especificamente dessas três cidades fronteiriças, já são 216 estudantes de graduação na UNILA, sendo 169 de Foz do Iguaçu, 41 de Ciudad del Este e 6 de Puerto Iguazu, o que representa 14,8% de todo o universo de estudantes da graduação. No Paraná, a UNILA torna-se cada vez mais referência à mesorregião Oeste – já são 109 estudantes, em especial de Cascavel, Medianeira e São Miguel do Iguaçu. Considerando a mesorregião Oeste e Sudoeste do Paraná e as províncias de Missiones (na Argentina), do Alto Paraná e Itapuá (no Paraguai), são pouco mais de 360 estudantes desta grande região de fronteira, ou seja, 25% do total de alunos. Em português e em espanhol, esses estudantes convivem diariamente, realizam trabalhos em grupo e percebem, na prática, que qualquer contribuição que sejam capazes de fazer em relação à integração latino-americana, deverá começar aqui, por entre estes rios, com esta comunidade.
Fluxo
A acadêmica de Cinema e Audiovisual, Mariana Baez Coronel, que é de Corrientes (a 640km), cidade da província de Missiones e que fica na beira do Rio Paraná, percebe na interfência das políticas públicas locais o principal modo de contribuir. “Acredito que a UNILA ajude no desenvolvimento local ao formar profissionais capacitados e vinculados às problemáticas da região. Além disso, o fluxo de pessoas circulando por aqui por conta da UNILA também contribui a esse desenvolvimento. Creio que a principal ajuda possa vir na elaboração de políticas públicas, mais contemporâneas e responsáveis”, disse.
Uma integração regional a partir do desenvolvimento local – este é o pensamento de José Augusto Alcaraz, paraguaio de descendência Sul-coreana, que cursa Ciências Econômicas – Economia, Integração e Desenvolvimento, desde o início do ano. Em sua formação, busca entender a dinâmica global e o comportamento das empresas transnacionais (cujas marcas ficam tão evidentes nas ruas e lojas de Ciudad del Este), a partir de uma perspectiva mais latino-americana. Seu objetivo, como o de tantos alunos que estão na UNILA, é nobre. “Conseguir modificar a realidade local, promovendo melhorias sociais e atendendo às demandas legítimas da comunidade”, aponta. Ele tentava entrar na UNILA há três anos. “Gosto muito da universidade, desta diversidade e de poder realizar tantas trocas”, comenta. Conhecedor das tecnologias, dá dicas, em bom portunhol, à prefeita da unidade UNILA Centro, Ivania Ferronato, sobre o melhor e mais barato que se pode encontrar, em termos de celulares, em Ciudad del Este, onde nasceu e vivia até pouco tempo atrás.
Do outro lado
Ivania ocupa cargo comissionado na UNILA desde 2011, quando foi escolhida a dedo para contribuir com o atendimento discente, quanto ao acolhimento, acompanhamento, benefícios e repasse de orientações. Natural do Rio Grande do Sul, Ivania chegou à região no início da década de 80, para trabalhar em Ciudad del Este na assistência dos brasileiros que viviam por lá, em comércio e agricultura. “Muitos foram para lá trabalhar e a gente dava orientações quanto aos documentos, sistema de saúde e de escola, questões jurídicas, auxílios. Eles enfrentavam os mesmos problemas que, muitas vezes, vivenciamos por aqui hoje em dia: preconceitos, violência e assédio moral, dificuldades com a língua e com a adaptação aos costumes locais. Mas a integração com a comunidade é inevitável”, diz.
De lá para cá, fez Pedagogia, desenvolveu trabalhos sociais e foi convidada, mais recentemente, a integrar-se à UNILA. “Desde minha faculdade e de minhas viagens pela América do Sul, despertei apreço e interesse pela América Latina e muito respeito por todos os seres humanos e por sua cultura. Acho tudo isso tão bonito! Mas tanto no Paraguai quanto aqui, sempre houve resistências, que vão sendo vencidas aos poucos”, ressalta.
Em um de seus trabalhos sociais em um abrigo de crianças, Ivania conheceu Francieli Vicencia de Faria, aos 12 anos, que havia ficado órfã com os irmãos devido à violência da região. Em 2014, após concluir o curso de História, a moça órfã ingressou em Letras – Artes e Mediação Cultural na UNILA, motivada por aprofundar seus conhecimentos em História da Arte. “Se a UNILA existisse naquela época, eu a teria buscado para meus estudos universitários, mas fui obrigada a recorrer à universidade particular. Daí, precisei trabalhar ao mesmo tempo em que estudava para conseguir dar conta de tudo. Um sufoco! Com certeza, esta é uma excelente oportunidade de estudos para a região”, salienta.
Um eterno migrar
A vida em uma Fronteira Trinacional é um eterno migrar. Hay que estar siempre con papeles y pesos argentinos y guaranis y reales y dólares. Se no Paraguai há comércio e baladas de primeira linha, na Argentina há as carnes, os vinhos, os queijos e as fiestas na rua. Já no Brasil, existe uma ampla rede de serviços e de entretenimento, ideal para eventos e passeios. E há, também, este novo investimento na cidade e região no âmbito da educação superior, que promete ser um grande espaço para reflexão, qualificação e encontros em toda essa região trinacional.
O aumento de oportunidades de estudo já havia sido vislumbrado pela técnica em assuntos educacionais da Pró-reitoria de Graduação, Vanessa Woicolesco. Natural de Francisco Beltrão, no sudoeste paranaense, Vanessa veio para Foz do Iguaçu carregada pelo pai, quando pequena, que trabalhava na Itaipu. Fez toda a formação acadêmica por aqui e sua opção de carreira foi condicionada pelas opções que a cidade podia oferecer. “A UNILA vem para oferecer qualidade e diversidade de opções, dinamizando toda a economia e modificando vidas. Como Universidade, em seu sentido amplo, deve ser espaço do diverso, de um universo de possibilidades. Pode ser responsável, por meio de sua extensão e pesquisa, por novos arranjos produtivos e por despertar outras vocações da cidade, ainda adormecidas”, opina. Vanessa conta que, há algumas décadas, era o pai que precisava cruzar a ponte para Ciudad del Este para fazer graduação. “Agora, o movimento é inverso e acredito que esse fluxo venha a aumentar muito. Por isso, temos de pensar em uma melhor mobilidade entre essas cidades para melhor integração”, comenta.
Nosotros
A série de reportagens Nosotros visa revelar aqueles que compõem a Universidade Federal da Integração Latino-Americana e os meandros da implantação. Ao longo deste ano, estudantes, professores, técnico-administrativos, gestores e colaboradores terão um espaço para contar suas histórias, seus sonhos e expectativas a respeito desta instituição de ensino superior de vocação latino-americana, sobre a cidade fronteiriça, sobre Brasil e América Latina. Afinal, a UNILA cresce a cada nova pessoa que se soma à sua proposta, pluralizando-se e qualificando-se! Esta reportagem teve o apoio do Departamento de Informações Institucionais da Pró-reitoria de Graduação.
Fonte: CidadeFoz
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